Café da manhã no salão de um hotel. As televisões onipresentes transmitem um documentário sobre araras azuis. O som está baixo. Os hóspedes estão atentos aos quitutes do bufê, sempre reabastecido pelos garçons.
No intervalo comercial, a transmissão das tevês aumenta o som para chamar atenção para os anúncios que serão veiculados.
Comercial - Cena 1: um garotinho diz para a mãe, em alto e bom som, que quer fazer cocô. Os estranhos reunidos no salão do hotel se entreolham. Sobrancelhas são arqueadas, mas os talheres seguem suas fainas de levar alimentos às bocas.
Cena 2: A mãe com o filho no banheiro, o vaso sanitário triunfante entre os dois. O menino insiste com a mãe: quero fazer cocô na casa do Pedrinho! As sobrancelhas ficam mais altas, os talheres são repousados sobre as mesas, pessoas se entreolham novamente.
Cena 3: o menino, a mãe, o Pedrinho, a mãe do Pedrinho, outro vaso majestoso. A mãe do Pedrinho diz que o segredo é uma determinada marca de papel higiênico. O menino chato da cena 1, com o rolo de papel higiênico nas mãos, diz que quer fazer cocô.
No salão, mãos desocupadas afastam com nojo os pratos com mamão, os potinhos de iogurte, os copos de suco de laranja e as tacinhas com flan de baunilha. Tudo em trinta segundos.
José FRID
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