Outro dia tive um sonho curioso. Uma grande amiga ligou-me, toda excitada, dizendo que tinham depositado dez milhões (dólares ou reais, não me lembro) e perguntando se poderia sacar um pouco daquele dinheiro. Sugeri que ela esperasse um ou dois dias para verificar se não iriam estornar o depósito. Caso permanecessem na sua conta, poderíamos pensar em usá-los. (Olha aí eu já colocando a mão no dinheiro alheio!)
Contei-lhe um caso semelhante que ocorreu comigo, no tempo dos planos econômicos, quando foi depositada uma grande quantia – erro na conversão da moeda, logo estornada. Alegria de pobre dura pouco, disse. Ela não gostou muito, mas agradeceu o mau conselho e desligou.
Uma hora depois, ela retorna a ligar, ainda mais excitada, dizendo que o dinheiro continuava lá, era muita tentação, nem conseguia trabalhar. Perguntou-me se não poderia tirar um pouquinho, afinal a conta era dela, quem mandou depositar errado. Falei que dinheiro não nasce do nada, que os milhões tinham dono. É como fosse uma carteira achada na rua. Caso ela mexesse no dinheiro, talvez precisasse devolver no futuro.
Ela perguntou quem iria cobrar. "O banco, é claro", respondi. "Mas como o banco vai saber que o dinheiro não é meu?" "Pela contabilidade, se for erro de lançamento. Pela reclamação do depositante, se ele tiver errado a conta ...."
"Não posso usar nem um pouquinho?" Respondi-lhe que o dinheiro não era dela, logo não poderia usar nada, mas, se quisesse mesmo pegar algum, o melhor era sacar em espécie, pois transferências eletrônicas poderiam ser canceladas. Ela disse que isso tudo era muito emocionante e desligou.
Passadas algumas horas ela liga novamente, no máximo da excitação, tal qual uma garota levada. A ligação está péssima, muito ruído ambiental. Ela diz que está no aeroporto indo para a Europa visitar o filho. Comprara as passagens com débito em conta, classe executiva, adquirira muitos euros e dólares no próprio banco, mandara dinheiro para o filho por "doc" internacional, transferira algum para a conta do namorado, da mãe, da irmã, que imediatamente converteram em moeda sonante. Porém, a maioria do dinheiro continuava na sua conta, nem saberia gastar tantos milhões assim tão rápido. "Só peguei um pouquinho para as passagens e ficar uns meses na Europa. O banco vai ter que correr atrás de mim lá na Europa, ou esperar eu voltar e ter dinheiro para acertar as contas. Beijos!"
Acordei pensando no sonho, ou melhor, na origem do sonho. Os entendidos dizem que os sonhos sempre têm significados ocultos, são a vida "passada a limpo". Matutei um pouco e fui achando as pistas. Os milhões vieram da conversa com um amigo, que contou que um cliente foi intimado a dar informações sobre as centenas de milhões movimentadas em sua conta corrente, conta que ele desconhecia existir. Fuxica daqui, busca dali, o dinheiro era movimentado por uma organização "social" ligada a impoluto senador e avô muito conhecido. O cliente está tentando sacar algum dinheiro da conta, nem que seja para pagar os advogados.
A viagem da amiga veio de um telefonema dela no qual ela disse que tinha ganhado de presente de aniversário uma viagem surpresa. A Europa e o filho? Essa foi fácil. Mãe é mãe, não é madrasta. Para onde iria uma mãe com tanto dinheiro?
Mãe é assim: tudo para ficar junto com o filho!
José FRID
Atualização em 2012: Contaram-me, outro dia, que num programa de pastor evangélico apareceu um crente dizendo que orou, deu dinheiro para a igreja e apareceu dinheiro na conta dele. Pode?
2 comentários:
Ah, tá! Se ele estivesse no Acre, ela iria pra lá então?
PS: nada contra o Acre, hein. Nem o conheço.
Para ir ao Acre não precisa de milhões na conta. Dá para ir até de ônibus!
Mas que mãe que é mãe ia sim atrás do filho, até no Acre!
Frid
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