sábado, 15 de maio de 2010

Mescalina - Allen Ginsberg (fragmento)


Ginsberg apodrecendo, eu o olhei hoje nu no espelho

reparei no velho crânio, estou ficando calvo

minha cabeça brilha na luz da cozinha sob o cabelo fino

como o crânio de algum monge nas velhas catacumbas iluminadas por

um guarda com a lanterna

seguido por um bando de turistas

assim a morte existe

meu gato mia e olha para dentro do armário


............



fotografias demais nos jornais

amarelados apagados recortes de jornais

estou saindo do poema para uma bosta contemplativa

lixo da mente

lixo do mundo

o homem é meio lixo

todo o lixo no túmulo



O que poderá Williams estar pensando em Paterson, a morte tão nele

tão já tão já

Williams, o que é a morte?

Você agora se defronta com a grande questão a cada momento

ou você a esquece no café da manhã olhando para a cara do seu velho e feio amor

estará você preparado para renascer

para livrar-se deste mundo e entrar no céu

ou livrar-se, livrar-se e tudo acabado – e ver uma vida – toda a eternidade - passada

para o nada, um enigma proposto pela lua para a terra sem resposta

Nenhuma Glória para o homem! Nenhuma Glória para o homem! Nenhuma glória para mim! Não para mim!

Não adianta escrever quando o espírito não conduz



Allen Ginsberg in "Uivo, Kaddish e outros poemas", L&PM, tradução de Claudio Willer

Nenhum comentário: