terça-feira, 18 de maio de 2010
Repente
A Salvador Monteiro
Desfaço mau-olhado em meia hora,
amanhã trago o amor que escapuliu.
Mostro o pau com que sei matar a cobra,
e mato a cobra em troca de três mil.
Por quatro mando a chuva pra lavoura,
por sete vou nevar em céu de anil,
por dez eu escureço a claridade,
e o sol já vai brilhar por vinte mil.
Por quarenta na mão lá vem dilúvio,
o preço de sessenta inclui trovão.
Para acalmar a fúria do divino,
trinta à vista e cinquenta à prestação.
Não reclame do preço que lhe cobro,
Deus me leva uma santa comissão.
Da cobra eu fico só com o veneno,
e da neve um chumaço de algodão.
Só consigo enxergar a claridade
quando dou de beber ao lampião,
e apago minha sede em conta-gotas
quando acende o holofote do verão.
Reles faquir sem carteira assinada,
mero cantor de uma fome sinfônica,
sou passageiro que chega ao inferno
em vôo direto, e na classe econômica.
Antonio Carlos Secchin in "Todos os Ventos", Editora Nova Fronteira
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