Vejo minha janela se desmanchar
Ao menor rumor
Abaixo o telefone
Abaixo a tevê
Preciso saber de onde vem
Senão
Nunca serei um dia
A destruição de todos os despertadores
Procuro por entre paredes
Repletas de pedidos de socorro
Abaixo o barulho
Abaixo o volume do vento
Antes de o espelho quebrar meu rosto
Ponho tudo de lado
E desço
Como quem persegue os séculos
A cidade às voltas com a massa cinzenta das ruas
Suas próprias ruínas
Abaixo
Mais abaixo
Num céu repleto de escorpiões
Algo poderoso nos desafia
Ah
Se o pensamento pudesse se fechar
E limpasse a claridade de vez
Devoro tudo ao redor
E nada dele
Baixo
Sempre mais baixo
Como a criança que adormece
Na superfície do oceano
Tento escutar o ruído do mundo
Agachado
No centro da cidade
Mas desconfio que os mortos repousem
No calor da ferida
Abaixo como nós
Abaixo e sempre
E eu caminharia com o segredo de um sorriso
Até quando não pudesse mais ser ouvido
Eternos como a terra
Transparentes como a pele
Seremos eu e meus passos
Apenas?
Sua única música
Se desapareceu
Existe
Nenhum comentário:
Postar um comentário