quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A ERUPÇÃO DAS ESFERAS



Vejo minha janela se desmanchar

Ao menor rumor

Abaixo o telefone

Abaixo a tevê

Preciso saber de onde vem

Senão

Nunca serei um dia

A destruição de todos os despertadores



Procuro por entre paredes

Repletas de pedidos de socorro

Abaixo o barulho

Abaixo o volume do vento

Antes de o espelho quebrar meu rosto

Ponho tudo de lado

E desço

Como quem persegue os séculos



A cidade às voltas com a massa cinzenta das ruas

Suas próprias ruínas

Abaixo

Mais abaixo

Num céu repleto de escorpiões

Algo poderoso nos desafia

Ah

Se o pensamento pudesse se fechar

E limpasse a claridade de vez



Devoro tudo ao redor

E nada dele

Baixo

Sempre mais baixo

Como a criança que adormece

Na superfície do oceano

Tento escutar o ruído do mundo

Agachado

No centro da cidade



Mas desconfio que os mortos repousem

No calor da ferida

Abaixo como nós

Abaixo e sempre

E eu caminharia com o segredo de um sorriso

Até quando não pudesse mais ser ouvido

Eternos como a terra

Transparentes como a pele

Seremos eu e meus passos

Apenas?



Sua única música

Se desapareceu

Existe



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