quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pagando a conta da tia




Minha tia chegou em casa indignada. Tinha mandado encerrar seu cartão das Lojas Marisa, que teria feito num impulso para aproveitar o parcelamento oferecido, mas acabara de receber uma fatura para pagar. Pedi para olhar o documento e verifiquei que seu valor era de R$ 0,13. Isso mesmo: treze centavos!!



Ri e disse para ela pagar imediatamente, caso contrário seria inscrita no SPC e na SERASA, pela ameaça ao crédito nacional. Ela perguntou o que estava devendo. Falei que o valor exorbitante referia-se a uma multa por atraso de pagamento e encargos financeiros. Ela retrucou que mandara cancelar o cartão exatamente por isso, pois nunca lembrava da data de vencimento e não podia colocar em débito automático. Eles queriam que ela fosse à loja todo mês, mas ela tinha mais o que fazer.



Ofereci-me para pagar a conta, poupando-a do transtorno, pois existia uma Marisa no caminho do restaurante onde almoço de vez em quando, mas com uma pequena condição: que ela remunerasse meus serviços, pois nem relógio trabalha de graça hoje em dia. Após intensas negociações, acertamos um valor justo para ambas as partes e uma gorda moeda cinzenta trocou de bolso.



No dia seguinte, depois de um frugal almoço, entrei na citada loja: um mar de mulheres de todas as idades revirando bancadas, cabides, vitrines, varais, manequins, araras. Atordoado, consegui localizar um segurança e perguntei-lhe onde poderia pagar a fatura. "Direto no caixa", disse-me ele apontando para um conjunto de balcões no meio da loja. Fui aproximando-me do local e uma fila enorme de mulheres segurando milhares de peças de roupas apareceu. Desanimei: os trinta e sete centavos que cobrara pelo serviço não valiam enfrentar aquele transtorno.



A fila era única, ou seja, abastecia vários caixas. Escolhi a caixa mais longe da fila e perguntei para a operadora onde poderia pagar a fatura. Ela olhou-me de um jeito estranho e perguntou se era só a fatura. Confirmei e ela apontou um balcão escondido do outro lado, no qual o pagamento de fatura tinha prioridade.



Animado, parti para o guichê redentor. Uma única mulher na minha frente, mas com umas dez peças de vestiário numa cesta da loja. Perguntei para a operadora se a fatura poderia ser paga ali. Ela confirmou e pediu licença para a cliente para eu passar na frente dela, pois tinha só uma fatura. A moça aquiesceu e entreguei o boleto.



Antes da funcionária olhar a fatura, ela perguntou como eu pagaria. Respondi que o valor total em dinheiro. Ela desdobrou o papel e verificou o seu valor. Joguei três moedinhas de cinco centavos sobre o balcão e sorri dizendo: "pode pagar tudo que acabei de receber o décimo-terceiro!"



A cliente ao meu lado perguntou-me como fazer para ter uma fatura assim. Falei que era só não comprar nada e atrasar o pagamento. "Não dá para não comprar nada, a gente está sempre precisando de alguma coisa", disse-me ela. "Homem não, a roupa dura...", respondi. Ela olhou-me de alto a baixo e seu rosto mostrou que a avaliação dos meus trajes não tinha sido positiva.



A caixa estava em dúvida sobre o recebimento de valor tão pequeno, pois na fatura constava dispensa de pagamento inferior a quatro reais. Ponderei que eu devia, isto é, minha tia devia, e que eu, isto é, ela queria pagar. A moça chamou uma supervisora, que inicialmente orientou-a a não receber. Olhei firme para as duas com as moedinhas chacoalhando na mão. A supervisora balançou a cabeça e autorizou o pagamento.



- O cartão é seu?
- Da minha tia.
- Não precisava pagar.
- Ela quer encerrar o cartão.
-Tudo bem.
- Não fica caro para a Marisa cobrar esse valor tão baixo?
- É negócio para nós.
- Acho que saiu mais cara a fatura que o valor cobrado. Correio, papel, impressão, processamento de dados, custos de cobrança, contabilidade ...
- Mas é que a pessoa vem pagar e acaba comprando alguma coisa. O nosso lucro está aí.
- Eu não comprei nada.
- Sua tia compraria.



Olhei ao redor, as mulheres, as roupas: a Marisa está certa!





10 comentários:

Anônimo disse...

O que a C. te arrumou, heim???

N.

Metamorfose Ambulante disse...

Sobrinho é para essas coisas!

Anônimo disse...

Isso é Brasil!!!!!!!!!!
Abraços
O.

Anônimo disse...

Por essas e outras, evito entrar nas lojas Marisa. Aconteceu algo parecido e fiquei vacinada....
Abçs,

L.

Metamorfose Ambulante disse...

Homens não têm esses problemas!!

Anônimo disse...

Ainda bem que você encarou com bom humor!
M.

Metamorfose Ambulante disse...

Eu estva entre mulheres!!

FRID

Anônimo disse...

Oi, amigo!
Mas nem que a vaca tussa não aceito cartão de lugar algum, o que eu já possuo - débito/crédito BB-Visa - já dá muita dor de cabeça, estou sempre puxando o freio de mão, mas às vezes estrapola, hehehehehe.

Moral da história: fique em casa ou só saia para namorar vitrine, certo.
Abração bem apertado.

M.

Metamorfose Ambulante disse...

Namorar vitrine é o esporte predileto das mulheres!

Frid

Anônimo disse...

Muito boa essa, tio!!
D.