Minha tia chegou em casa indignada. Tinha mandado encerrar seu cartão das Lojas Marisa, que teria feito num impulso para aproveitar o parcelamento oferecido, mas acabara de receber uma fatura para pagar. Pedi para olhar o documento e verifiquei que seu valor era de R$ 0,13. Isso mesmo: treze centavos!!
Ri e disse para ela pagar imediatamente, caso contrário seria inscrita no SPC e na SERASA, pela ameaça ao crédito nacional. Ela perguntou o que estava devendo. Falei que o valor exorbitante referia-se a uma multa por atraso de pagamento e encargos financeiros. Ela retrucou que mandara cancelar o cartão exatamente por isso, pois nunca lembrava da data de vencimento e não podia colocar em débito automático. Eles queriam que ela fosse à loja todo mês, mas ela tinha mais o que fazer.
Ofereci-me para pagar a conta, poupando-a do transtorno, pois existia uma Marisa no caminho do restaurante onde almoço de vez em quando, mas com uma pequena condição: que ela remunerasse meus serviços, pois nem relógio trabalha de graça hoje em dia. Após intensas negociações, acertamos um valor justo para ambas as partes e uma gorda moeda cinzenta trocou de bolso.
No dia seguinte, depois de um frugal almoço, entrei na citada loja: um mar de mulheres de todas as idades revirando bancadas, cabides, vitrines, varais, manequins, araras. Atordoado, consegui localizar um segurança e perguntei-lhe onde poderia pagar a fatura. "Direto no caixa", disse-me ele apontando para um conjunto de balcões no meio da loja. Fui aproximando-me do local e uma fila enorme de mulheres segurando milhares de peças de roupas apareceu. Desanimei: os trinta e sete centavos que cobrara pelo serviço não valiam enfrentar aquele transtorno.
A fila era única, ou seja, abastecia vários caixas. Escolhi a caixa mais longe da fila e perguntei para a operadora onde poderia pagar a fatura. Ela olhou-me de um jeito estranho e perguntou se era só a fatura. Confirmei e ela apontou um balcão escondido do outro lado, no qual o pagamento de fatura tinha prioridade.
Animado, parti para o guichê redentor. Uma única mulher na minha frente, mas com umas dez peças de vestiário numa cesta da loja. Perguntei para a operadora se a fatura poderia ser paga ali. Ela confirmou e pediu licença para a cliente para eu passar na frente dela, pois tinha só uma fatura. A moça aquiesceu e entreguei o boleto.
Antes da funcionária olhar a fatura, ela perguntou como eu pagaria. Respondi que o valor total em dinheiro. Ela desdobrou o papel e verificou o seu valor. Joguei três moedinhas de cinco centavos sobre o balcão e sorri dizendo: "pode pagar tudo que acabei de receber o décimo-terceiro!"
A cliente ao meu lado perguntou-me como fazer para ter uma fatura assim. Falei que era só não comprar nada e atrasar o pagamento. "Não dá para não comprar nada, a gente está sempre precisando de alguma coisa", disse-me ela. "Homem não, a roupa dura...", respondi. Ela olhou-me de alto a baixo e seu rosto mostrou que a avaliação dos meus trajes não tinha sido positiva.
A caixa estava em dúvida sobre o recebimento de valor tão pequeno, pois na fatura constava dispensa de pagamento inferior a quatro reais. Ponderei que eu devia, isto é, minha tia devia, e que eu, isto é, ela queria pagar. A moça chamou uma supervisora, que inicialmente orientou-a a não receber. Olhei firme para as duas com as moedinhas chacoalhando na mão. A supervisora balançou a cabeça e autorizou o pagamento.
- O cartão é seu?
- Da minha tia.
- Não precisava pagar.
- Ela quer encerrar o cartão.
-Tudo bem.
- Não fica caro para a Marisa cobrar esse valor tão baixo?
- É negócio para nós.
- Acho que saiu mais cara a fatura que o valor cobrado. Correio, papel, impressão, processamento de dados, custos de cobrança, contabilidade ...
- Mas é que a pessoa vem pagar e acaba comprando alguma coisa. O nosso lucro está aí.
- Eu não comprei nada.
- Sua tia compraria.
Olhei ao redor, as mulheres, as roupas: a Marisa está certa!

10 comentários:
O que a C. te arrumou, heim???
N.
Sobrinho é para essas coisas!
Isso é Brasil!!!!!!!!!!
Abraços
O.
Por essas e outras, evito entrar nas lojas Marisa. Aconteceu algo parecido e fiquei vacinada....
Abçs,
L.
Homens não têm esses problemas!!
Ainda bem que você encarou com bom humor!
M.
Eu estva entre mulheres!!
FRID
Oi, amigo!
Mas nem que a vaca tussa não aceito cartão de lugar algum, o que eu já possuo - débito/crédito BB-Visa - já dá muita dor de cabeça, estou sempre puxando o freio de mão, mas às vezes estrapola, hehehehehe.
Moral da história: fique em casa ou só saia para namorar vitrine, certo.
Abração bem apertado.
M.
Namorar vitrine é o esporte predileto das mulheres!
Frid
Muito boa essa, tio!!
D.
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