sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Eu, meu tio e o problema do Lulla







A divulgação da doença do Lulla fez-me lembrar de dois episódios: a doença e cura do meu tio e a suspeita da minha doença.


Meu tio, num belo dia, passando em frente ao hospital público onde sua irmã médica estava de plantão, resolveu visitá-la. Ela estranhou a rouquidão dele, que disse que era normal, consequência dos cigarros da vida toda e de algumas cervejas geladas da noite anterior, "vai passar logo, de noite estarei ótimo, vou poder até cantar como o Sílvio Caldas". Ela perguntou-lhe se não queria ver o otorrino de plantão. Para tranqüilizá-la, ele resolveu acatar sua sugestão. Não deu outra: câncer na garganta em estágio inicial. Ele parou de fumar e de beber, fez tratamento e ficou curado. Faleceu, de outra coisa, depois de mais de trinta anos.

O Lulla também descobriu a doença pela rouquidão. E fuma e bebe como meu tio. Creio que vai ficar totalmente curado do câncer e morrer de outra coisa qualquer, como todos nós algum dia. Terá que parar de fumar e beber. Eu não fumo e, lógico, acho que dá para viver sem esse vício besta. Acho que se o Lulla só beber quando o Corinthians ganhar, o álcool nem fará mal para ele. Dará para curtir a cobertura triplex do Guarujá por muitos e muitos anos!

Quando era jovem, tratava-me na Policlínica Central do Exército, um SUS melhorado. Eu, novinho, só costumava ir ao dentista, ao oculista – acertar o grau da miopia crescente, e ao otorrino – sempre com sinusite e assemelhados. Num determinado dia, indo ao dentista, fui informado que ele tinha remarcado as consultas em virtude de problemas particulares. A atendente perguntou se eu não queria aproveitar e consultar-me com outros médicos. Será que eu não tinha nada para tratar? Falei que os óculos eram novos, as fossas nasais estavam comportadas, nada doía. Jovem, enfim. Agradeci e ia saindo do prédio quando tive uma coceira nas costas. A mancha! Voltei, tinha consulta com o dermatologista em duas horas. Marquei e resolvi ir ao Campo de Santana ver as cotias correrem e tomar um Eskibon, já que não precisava manter os dentes escovados.

Desde pequeno que tenho uma mancha acastanhada nas costas, perto da coluna, que foi crescendo, escurecendo e fazendo mais coisas que eu não via, pois ela estava nas costas. Toda vez que tinha que renovar o exame da piscina, o médico, mostrava para meu pai a mancha e mandava-o cuidar melhor da minha higiene, quem sabe passar um algodão com álcool. Meu pai, por sua vez, descarregava na minha mãe, acusando-a de não cuidar direito de mim. Daí a quatro meses, o drama se renovava, mas nenhuma atitude era tomada pelos meus pais com relação à bendita mancha. (Será esse o motivo que abandonei as piscinas em prol das praias?) Agora, eu senhor das minhas ações, ia, enfim, tomar providências!

O médico mandou tirar a camisa, olhou a mancha das costas, passou o dedo pela pele, perguntou por outras, mostrei a do braço e a sob o queixo. Ele disse que estas duas eram de nascença, não tinham problema, mas que a outra merecia atenção, pois podia ser ....., ou ....., ou ..... ou câncer, que precisava fazer uma biópsia. A palavra maldita ficou ecoando na minha cabeça e toldou meus sentidos. De repente vejo-me deitado de barriga para baixo numa mesa metálica gelada, o doutor explicando que vai tirar um pedaço, incluindo camadas abaixo da pele, para ter um bom diagnóstico. Ele espeta algo nas minhas costas, explica que é uma anestesia local, depois começa a cortar, sinto a pressão física, mas sem dor. O miserável coloca o bisturi numa bandeja pequena que está bem sob meus olhos: aquilo vermelho é meu sangue!! Começo a desmaiar, mas sou reposto à vida com outra espetada, é o carcará enfiando um cordão na minha pele, sinto a linha passar. Ele pega o bisturi, corta mais um pouco e extrai um "bife" do meu corpo e mostra para mim: um pedaço de mim preso por um barbante. Deixa a carne, o bisturi, uma pinça, tesoura, chumaços de algodão e gases, todos tingidos com meu sangue, na tal bandeja na minha frente. Sutura. Depois põe o pedaço de mim num vidrinho e manda eu levar ao laboratório. Resultado em vinte dias! VINTE LONGOS E MISERÁVEIS DIAS!!!

Tento esquecer o problema e levar vida normal. Com certeza o resultado será alguma das coisas que o doutor falou antes da palavra maldita. Mas a mancha está ali e coça, o corte lateja, que será de mim? Como o médico disse para não tomar sol no corte, não saio mais de casa, depressão profunda! Não penso propriamente na morte, coisa inimaginável para um jovem, mas na evolução da doença, nas ulcerações da pele, o tratamento agressivo, etc. Amigos vão visitar-me, mostro o corte – para mim uma brecha! – e a mancha, imensa, enorme, dominando as minhas costas. Consigo até brincar, dizendo que terei que usar uma armadura metálica para afastar a camisa das imaginárias feridas cancerosas. Tento levantar da cadeira, mas as pernas trêmulas, fracas, denunciam exatamente meu terror, minha falta de coragem, com o possível diagnóstico.

O dia do juízo final chegou. Estou no guichê do laboratório. Não sei como consegui chegar até ali. Com a mão trêmula entrego o protocolo para o atendente. Entrega-me um envelope fechado. Permaneço parado, menos minhas mãos que tremulam, melhor dizendo, trepidam, chacoalham o envelope. Meu destino está ali. O atendente, surpreso, toca no meu ombro e diz que eu tenho que entregar o exame para o médico. Caminho pelos corredores escuros como um condenado ao cadafalso. Chego no serviço de dermatologia. A auxiliar pergunta se tenho consulta marcada. Digo que não sabia que precisava marcar, quero só mostrar o exame. Ela olha para mim, à beira de ter um treco ali mesmo, apieda-se, ajuda-me a sentar e diz que vai mostrar o exame para o doutor assim que sair um paciente. Espero de olhos fechados a pronúncia da sentença. Escuto a porta do consultório abrir, um paciente sair, a atendente entrar, papel sendo rasgado e a voz do destino: diga pra ele que não é nada, correu tudo bem. Abro os olhos, sorrio para as pessoas na sala de espera, tenho vontade de beijar a moça que sai do consultório com o exame na mão. Contenho-me, agradeço e saio feliz pelos corredores iluminados da clínica, vontade de beijar e abraçar a todos!

Saio da clínica sem saber para onde ir, é muita felicidade dentro de mim. Logo chego no Campo de Santana. Vamos aproveitar a vida que acabei de ganhar! Passo a tarde vendo as cotias fazerem gracinhas e chupando Chicabons.





10 comentários:

Augusto Branco disse...

A MAIOR INVASÃO DA HISTÓRIA DA INTERNET
Dia 05/11/2011 às 23:00h (Horário de Brasília),
faremos uma grande invasão num site da Maçonaria.

Todas as instruções serão postadas no blog A INVASÃO DA VERDADE.

Qualquer pessoa poderá participar. Não é preciso ser hacker.

Tudo será feito no tempo de apenas 01 hora.

Segue o link do blog:
http://invasaodaverdade.blogspot.com/

Avise seus amigos.
Tudo aquilo que está oculto será revelado.

Um grande abraço pra você!

Anônimo disse...

Tenho uma história, semelhante.
Aguarde, vou juntar as palavras.

Sérgio

Metamorfose Ambulante disse...

Mande para mim!

Anônimo disse...

uauuuuuuuuuuu, final feliz
que bom.

Infelizmente sou fumante, não bebo .... após minha prova do dia 4 tenho absoluta convicção que vou iniciar um tratamento, pois sozinha não consegui êxito, apenas me restringi ao cigarro mais fraco FREE ONE, porém c todos efeitos nocivos q os demais.

bjs, bom final de semana

Clara

Metamorfose Ambulante disse...

Dá para viver sem fumar!

Anônimo disse...

Olá Frid, tudo bem?
Eu não sabia da sua experiência traumática com dermatologistas!
Ainda bem que deu tudo certo.
Já as minhas experiências, até agora, têm sido muito boas...
Abração
João

Metamorfose Ambulante disse...

Dermatologistas dos anos setenta eram assim!!!

Tive outras duas experiências com dermatologistas com "extração de amostras" que foram boas, sem ver meu sangue correndo e câncer ecoando (apesar de sempre ser uma possibilidade).

Agora, as suas experiências são muito particulares, não podemos repeti-las!!!

Grande abraço!

FRID

Anônimo disse...

Urra FRID !

Sorvete ChicaBom é dos melhores, ainda mais quando se está com saúde, após um susto !
Desculpe a demora em responder, mas ando meio ocupado.
Obrigado pelo contato, meu Amigo !
DEUS te guarde !

Abraços, GALVÃO.

Beth disse...

A pergunta que não quer calar: e a mancha? Ainda existe? De que tamanho ela está?

Metamorfose Ambulante disse...

A mancha cresceu, tomou toda as costas, depois foi se fragmentando, diminuindo e está sumindo!! Dizem os doutos que ela é uma mancha de origem "mongólica (???). Depois, descobri que uma tia tinha uma mancha igual, ela só usava maiô por causa dela. A dela sumiu (ela é trinta anos mais velha).

FRID