Tentando ser politicamente correto ao comprar brinquedos!

Criança gosta de brinquedos. Mãe é que gosta de roupas. Natal, fui comprar um mimo para minha afilhada de menos de dois anos. No Dia das Crianças ela ganhou uma roupicha bem bonita. Antes, só brinquedos pedagógicos, com a idade adequada estampada na embalagem: três meses, um chocalho; seis meses, uma bola com textura; um ano, coisas de encaixar, etc. Material atóxico, sem peças pequenas, tudo politicamente correto. As crianças pequenas não mudam: esses brinquedos são iguais aos comprados vinte anos atrás para meus filhos e sobrinhos. Vinte anos!! O tempo passa! Como a menina já está muito esperta, quase dirigindo avião (efeito dos brinquedos pedagógicos?), resolvi comprar algo mais lúdico. Menina, boneca, nada mais fácil. Por causa da idade, teria que ser algo bonito, simples e seguro, sem partes pudessem ser engolidas. (Criança tem uma fome voraz por olhos, braços, pernas, botões, sapatinhos, lacinhos, pulseirinhas, etc. Será que as mães não alimentam direito seus filhos?)

Na loja passei em revista rigorosa as bonecas perfiladas nas prateleiras. Depois de reprovar algumas, acabei encantando-me por uns bebezinhos: bonitos, grandes, olhos pintados, lacinho do cabelo integrado ao plástico da cabeça, braços e pernas bem presos, vestido sem botões, sem sapatos nem meias. Não falam nem choram. Só um leve cheirinho de frutas. Corretíssimo para a idade dela!

Depois de escolher entre pêssego, goiaba ou maçã (!!), pego a caixa na prateleira e vejo estampado em vermelho o símbolo de proibido para crianças de 0-3 anos! Onde foi que errei? Reanaliso a boneca com meu melhor olhar infantil: o que nela despertaria meu apetite? No máximo chuparia uma perninha; quem sabe uma mastigadinha no laçarote para coçar a gengiva. O vestido para lamber. O resto é plástico, fixo, sem risco aparente. A tinta? A embalagem garante que é atóxica.

Triste e confuso, recoloco a goiabinha na prateleira. Procuro um vendedor e peço-lhe uma boneca para criança de até dois anos. Ele começa mostrando umas coisas horrorosas até retirar a pesseguinho da estante. Sorrio, vitorioso, e digo-lhe: esta não, veja o carimbo proibitivo! Ele examina a boneca com olhos de especialista. Nada. Revira a embalagem e encontra uma advertência escrita em letras miúdas (para avós não lerem?): "o laço poderá ser engolido pela criança ou enforcá-la". Que laço? Pesquisamos o bebê de cabo a rabo com faro de pediatra. Nada. Sacudimos a caixa, a roupa do bebê sai do lugar. Encontramos a arma mortal: um cordão que prende a boneca à caixa. O vendedor sugere que ao dar a boneca eu retire o vilão assassino. Não fico convencido. Os pais pensarão que quero matar a menina.  O símbolo ...

Ele chama outro atendente que, informado do problema, pega numa prateleira outra boneca que, dado corda, mexe os braços, pernas e cabeça. A embalagem estampa em letras garrafais: "Desenvolve a coordenação motora e estimula a criança a engatinhar". No outro lado da caixa o famigerado símbolo de proibição para crianças de 0-3 anos. Ele arremata: que criança com mais de três anos precisaria ser estimulada a engatinhar? Mando embrulhar a goiabinha para presente. A moça capricha no pacote e depois prende com a etiqueta da loja um vistoso pirulito no embrulho. Permitido para menor que três anos? Tempos difíceis!!!

José FRID

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