sábado, 10 de março de 2012

Eu, que nem frango de padaria!




Sábado de sol, cheiro de chuva próxima. Tomo café da manhã quase no fim da mesma, depois uma surfada básica na Internet – o mundo está calmo, os amigos ainda sonolentos, sigo para o parque, algumas voltas no lago, subo e desço o morro três vezes, Cooper feito, ponho o pé em casa, o céu desaba, timing perfeito. Panelas fumegantes, o que teria para o almoço? nada, isso tudo é para amanhã, hoje é miojo? não, almoço fora com sua filha, feijoada? não, Mocotó, desde quando ela come mocotó? não é comida, restaurante, ah, o restaurante, apronte-se que ela já está chegando. Um banho rápido, roupa trocada, ligo para o Mocotó, de hora a hora e meia de espera, vamos? vamos, até chegar lá a fila já acabou. A filha chega com o namorado, beijinhos e abraços, vamos? vamos, no meu ou no seu? no meu, sei o caminho, na volta alguém trás o carro, vou me acabar nas caipirinhas. A chuva promete voltar. Sena Madureira, subo a Norte-Sul até a Dummont Villares, Tucuruvi, Gustavo Adolfo, Nossa Senhora do Loreto, eis o Mocotó. Desembarco a turma, a rua coalhada de carros, parece que todo mundo está no Mocotó, dou voltas, estaciono na ladeira íngreme, lembro das lições de papai, engreno a primeira, rodas viradas para a calçada, freio de mão totalmente puxado. Céu negro, dou uma corridinha até a esquina, arfo, ladeira íngreme, outra corrida até o toldo do Mocotó, a chuva despenca, timing perfeito novamente.


Clima de bar de praia em plena Vila Medeiros. Casa lotada. Ganhamos o nº 107! Quanto tempo? Uma hora, hora e meia. Aboletados no balcão do bar de entrada, pedimos caipirinhas de siriguela, jabuticaba, limão e frutas vermelhas; dadinhos de tapioca com queijo de coalho; torradas de carne-seca; e caldinho de mocotó com fava. Serviço rápido, pego um dadinho, delícia, dou um gole na siriguela, gotosa. Vou pegar uma torradinha, mas sou surpreendido por um enjoo, uma sensação de vômito. Corro para o banheiro. O enjoo passa. Até quando? Resolvo dar um tempo por ali, aproveito para fazer xixi. Estou no mictório quando um calorzão ataca por trás da minha cabeça, queima a orelha esquerda. Fico assustado e erro a pontaria. Suo muito, mas a onda de calor passa tão repentinamente como veio. Meio tonto, guardo o dito cujo e resolvo pegar uma fresca na calçada (atenção: brisa fresca, e não bicha fresca!).


Sigo em direção à saída, minha mulher vem atrás. Chove torrencialmente. Como o toldo do restaurante está cheio, opto pelo da farmácia vizinha. A vista escurece, os ouvidos se obnubilam, aviso que vou desmaiar. Minha mulher me ampara, respiro fundo e consigo evitar o colapso vertical. "Você quer desmaiar em pé? Vamos sentar!" Sem nenhuma condição de retrucar, deixo-me conduzir até um dos bancos. "Está melhor?" Não, vou desmaiar. Minha filha obriga-me a deitar e coloca minhas pernas sobre o braço do banco. Timing perfeito: desmaio. Volto a mim, ouço alguém gritar para levantarem minhas pernas, desmaio, retorno, "ele está muito branco", desmaio, recupero-me e vejo minhas pernas sobre os ombros da recepcionista do restaurante. Fecho os olhos de vergonha de mim: desmaiado num banco na porta de um restaurante, com as pernas levantadas, todo arreganhado, como um frango de padaria!


Como demoro para abrir os olhos – vergonha – o pessoal assusta-se: morreu! O frango abre os olhos e diz que está bem. "Bem mal, com certeza!" "Pro hospital com ele!" Deixo-me levar para o carro, ainda em tempo de escutar: "107!", "107!", "Mesa 107, 4 lugares, salão do meio!" Eu, eu, eu ...


Um garçom segue com a gente para indicar o hospital mais próximo. Dobra aqui, agora ali, entra na próxima, sobe aquela, vira ali – emergência. Com tanta sacudidela, recupero a consciência bem em tempo de ver se aproximar uma maca:


- Maca não! Tô bem!
- Bem mal. Trás a cadeira de rodas!


Sou levado pelos corredores, logo uma atendente fura meu dedo, pelo visto ainda tenho sangue, medem a pressão, eletrocardiograma, aguardo na sala de repouso, eu e a cadeira de rodas. O médico chama meu nome. Tudo normal, apenas um Reflexo Vasovagal. 

Eu um vagal???


Quero minha caipirinha de siriguela!!!


José FRID


Veja também:












20 comentários:

Anônimo disse...

boa tarde.

tem alguma verdade nas suas cronicas?

sei que em muitas delas voce usa o cotidiano e então constrói a sua versão.

são muito boas.

abração,

Ervin

Metamorfose Ambulante disse...

As crônicas são todas verdadeiras! Nessa, por exemplo, fui parar no hospital Nipo-Brasileiro, próximo à Dutra.

Foi um susto terrível! Mas é o tipo de problema que os médicos não sabem as causas e nem o tratamento. Só descrevem a síndrome.

Ainda vou voltar ao Mocotó! Vamos?

Bom fim de semana!!

FRID

Anônimo disse...

Li e ri. Fazer o quê? Eu também quero caipirinha de seriguela. AMOOOOOOOOOOOO!
Já não faço mais filas. Tenho carteira de pessoas com necessidades especiais e com direito a acompanahnte. Direito adquirido e utilizado com tristeza, pois o motivo não é nada nobre. Mas já que o tenho, vamos fazer uso do que a lei me deu.
Eu quero caipirinha de siriguela????????????? E sem filas!!!
Votos de um ótimo final de semana.
Abraços,

Fátima

Metamorfose Ambulante disse...

Vou usar sua carteira quando voltar ao Mocotó!!

Anônimo disse...

KKKKKKKKKK!
Não posso emprestá-la. É contra a lei. Tem que ser "acompanhante".KKKKKK! Sempre estar com a mala do lado!
Excelente final de semana, com muito mocotó!

Fátima

Metamorfose Ambulante disse...

É lógico que iremos juntos!!! Estou programando para o sábado 24!!

Anônimo disse...

ahahaha.. ADOREI!!

E ae melhorou??..o q o medico disse afinal?:??

bjs

Sueli

Metamorfose Ambulante disse...

Como adiantei pelo Face, corri a Meia Internacional e cheguei bem com 2 horas e dez minutos - meu melhor tempo é 1:59. Já me inscrevi para a Meia da Corpore e vamos ver o que vai dar!

As causas do tal reflexo vaso vagal são muitas: cansaço, ficar em pé, calor excessivo, fome, má digestão, emoções, etc. O tratamento é só para os sintomas. No momento não tenho nenhum.

Em resumo, pode ser coisa que só dá uma vez e nunca mais ou que venha a se repetir. Neste caso, os médicos vão pesquisar se não é alguma outra doença mais séria.

Bom fim de semana!

FRID

Anônimo disse...

Bem, vamos torcer para que nada seja ..certo?

boa Corpore!!

2.10 é tempo mais q bom!!

bom fds

bjs

Sueli

Anônimo disse...

Frid, é verídico o conto????...que coisa hein.....
abs

Ivan

Metamorfose Ambulante disse...

As crônicas são todas verdadeiras! Nessa, por exemplo, fui parar no hospital Nipo-Brasileiro, próximo à Dutra.

Foi um susto terrível! Mas é o tipo de problema que os médicos não sabem as causas e nem o tratamento. Só descrevem a síndrome.

Ainda vou voltar ao Mocotó! Vamos?

Bom fim de semana!!

FRID

Anônimo disse...

Tio,
eu entendo que a maior parte da familia Frid Figueiredo sabe o que e' esse tal de vasovagal.
Mas para os membros da familia que infelizmente nao possuem esse tipo de conhecimento, pode explicar?
Fiquei preocupada!! Tudo bem que a preocupacao se amenizou um pouco com as risadas... mas esta tudo bem? E so problema de DNA?

P.S. Adorei o estilo do primeiro paragrafo!

Dani

Metamorfose Ambulante disse...

Não é problema de DNA, parece que é mais comum em jovens (a Mariana disse que teve isso no Metrô e a Carolina na academia). Mas com a idade vai aparecendo cada coisa .... que eu digo se você tem mais de cinquenta, acorda e não dói nada é por que morreu dormindo!!

Acabei de correr no domingo uma Meia maratona, sinal que está tudo legal.

A explicação segue abaixo.

O estilo do primeiro parágrafo é a la Saramago. Lógico que ele domina a arte muito melhor do que eu!

Grande abraço!

Anônimo disse...

Conto que tudo esteja bem com a sua saude. Assim, mantenho a minha esperança que nada abaixo relatado não seja além de um conto de ficção.

Muita Paz de cristo em seu Coração

Celso

Metamorfose Ambulante disse...

Agradeço sua preocupação, mas agora está tudo bem. Foi um evento pontual.

A crônica é verdadeira. Fui parar no hospital.

Abaixo explico o que é o tal reflexo vasovagal.

Espero que estejam todos bem aí em Saquarema. Soube da picada da cobra! Vixe!

Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Caro Frid
O que vem a ser um reflexo vasovagal?
Está tudo bem agora?
Abraços

Renato

Metamorfose Ambulante disse...

Renato

Agora já está tudo bem, até corri na semana passada uma Meia Maratona (com medo, mas corri).

Mas no dia foi um susto incrível e tive que ir para o hospital Nipo-Brasileiro, perto da Dutra.

Veja abaixo a descrição técnica da "doença". Não tem como prevenir nem tratar, só os eventuais sintomas. A síndrome pode se repetir ou ocorrer só uma vez. Na repetição, os médicos irão investigar se tem coisa mais grave ocorrendo. Espero que não!

Bom fim de semana!

FRID

1- Síncope vasovagal

Uma anormal estimulação do nervo vago pode levar a grande desaceleração do coração e uma abrupta queda da pressão arterial, diminuindo temporariamente o aporte de sangue e oxigênio para o cérebro.

Esse tipo de desmaio ocorre normalmente em pessoas jovens e sem outras doenças. A síncope é normalmente precedida de sintomas como suores frios, palidez e escurecimento súbito da visão.

A síncope vasovagal pode ser induzida por dor intensa, calor forte, por ficar em pé durante muito tempo, por medo ou estados de ansiedade intensa. É a causa de desmaios naqueles que tem pavor de agulha e precisam colher sangue, daquelas meninas em shows de música, ou de cirurgiões ou guardas que ficam muito tempo em pé sem se movimentar.

O estímulo vagal pode não ser suficiente para causar desmaios, levando apenas a mal estar, tonturas, enjoos e vômitos.

Apesar de ocorrer preferencialmente em jovens, alguns idosos apresentam repetidos episódios de síncope vasovagal, muitas vezes sem um fator desencadeante claro, como os citados acima.

O nervo vago, também chamado de nervo pneumogástrico, inerva diversos órgãos do nosso corpo, como o coração, estômago, laringe, pulmão, esôfago, intestinos, pele etc... É através dele que o cérebro recebe as informação do estado das nossas vísceras.

O nervo vago também é responsável pelo controle de algumas das funções destes órgãos como a produção de suor, a frequência cardíaca, a pressão arterial, os movimentos dos intestinos, a musculatura do pescoço e da boca.

O nervo vago carrega fibras do sistema nervoso parassimpático (SNP) que de um modo simples pode ser descrito como um antagonista dos efeitos da adrenalina no corpo, liberada pelo sistema nervoso simpático (SNS). Por exemplo, o SNS aumenta a pressão, acelera os batimentos cardíacos e nos deixa mais alerta, enquanto que o SNP, através do nervo vago, reduz a pressão arterial e lentifica o coração.

Resumindo, o SNS acelera o organismo e é estimulado por eventos de estresse e o SNP desacelera. A boa função dos dois mantém o corpo em equilíbrio.

Anônimo disse...

Sinto muito, não pude me conter ri muito (você vagal?).

Beijos, Helena.

Anônimo disse...

Frid,

desculpe-me pela indelicadeza, mas afinal...era bichice mesmo, tipo pq ñ conseguiu entrada pra "Priscilla, a rainha do deserto" ou a coisa foi séria mesmo?
Abç~...

Zélia

Metamorfose Ambulante disse...

Na hora foi sério, fiquei preocupado, nunca tinha passado por algo assim! Fui até pro hospital!

Mas agora está tudo bem, já até corri uma Meia Maratona!

Um abraço

FRID