terça-feira, 12 de junho de 2012

Para um companheiro



A vida é assim: você passa anos próximo a uma pessoa, depois as contingências nos afastam e de repente você é informado que ela faleceu. Assim, seco, na veia. Merda de vida, não? Nem dá para se despedir, rememorar com o outro os momentos felizes, as dificuldades enfrentadas juntos, as vitórias conquistadas, reafirmar nossos interesses comuns, abrandar nossas divergências ...

E agora? Só resta recordar os momentos felizes, que deixaram raízes nos nossos corações, como cantava Vinicius. Ele não tinha defeitos? Sim, mas quem não os tem? Cabe aos detratores cuidar deles, nós só vemos qualidades.

A primeira palavra que me vem à cabeça: intenso. Uma pessoa que viveu intensamente, se jogando de cabeça em tudo que fazia. Sem tempo a perder. Amores intensos, trabalhos intensos, amizades intensas. Difícil de acompanhar.

Nessa intensidade de vida é que com ele alcancei meu recorde pessoal de chopes num bar: 23 para cada um, registrados pelo garçom no papelucho à nossa frente. Bar Brahma, na famosa esquina da Ipiranga com São João. Palco de conversas intensas e infindáveis. A vida e o mundo passados a limpo. Éramos jovens!

Sem lei seca: beber e sair dirigindo era a regra. Cruzar São Paulo de madrugada. Muitas vezes comigo a bordo. Uma direção intensa, 23 de Maio acima e abaixo, zigue zagueando pelas quatro, cinco faixas. Na ida dialogando comigo, na volta imerso em suas inúmeras realizações.

Uma vez na minha casa derrubamos uma garrafa de uísque. Derrubamos, forma de dizer. Duas doses para minha mulher, umas quatro para mim, eu gosto mais de cerveja, o resto com ele. Insistimos para ele dormir em casa, quarto de hóspedes preparado. Ele alegou mil compromissos pela manhã, comida do cachorro, etc. Dia seguinte, lá estávamos os dois trabalhando como se nada houvesse acontecido, só dormira no carro. Whiskey do bom!

E como trabalhávamos. Sempre tendo que alongar o horário de trabalho. Para relaxar, de vez em quando uma cerveja no bar do lado. Que acabava em reunião interdepartamental de trabalho. Cervejas, fritas, calabresas, filés aperitivos, o português faturava, mas cansava. Como pôr a turma para fora sem magoar? Vira cadeiras sobre as mesas, saem alguns, lava chão, mais outros, baixa porta, mas nós dois resistimos no canto do balcão, conversa acalorada. Ele pede mais uma cerveja, a décima "saideira", o dono aproveita a deixa e informa:

- Acabou!
- Como acabou? Procura nas geladeiras!
- Só tem quente! Vocês tomaram todas as geladas!
- Só tem quente, você não se incomoda, né?


Intenso, mas era hora de ir embora, cerveja quente é pior que purgante!!


Sempre intenso, animado, barbudo, amigo de todos, bonachão, imagem que guardarei para sempre. Intenso até na morte. Infarto fulminante. Coisa de sortudo para os personagens de  Jack Nicholson e Morgan Freeman no filme "Antes de Partir". Descanse em paz, companheiro! Um dia desses a gente se reencontra!




5 comentários:

Anônimo disse...

Muito lindo velho Frid!

Conheço a cena e a intensidade muito bem.

Acho que não tenho mais amigos assim. Ou estou é ficando velho mesmo.

Sinto uma certa falta de educação e qualidade na grande maioria.
"mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem..." (grande Belchior)

Grande Abraço!

PS.: Vou pro Rio 23-08-12 a 26 (niver da baixinha)

"En el tren de la frontera

del lado de Uruguaiana

venia viajando junto al negro de la gaita

un paisano de bombacha

alpargata y boina negra

no se sabia dadonde era

pero quando lhe pedieran la identidad

respondió despasito

me identifico con la paz

y vengo a cantarla bajo su bandera"

(Dante Ramon Ledesma)

André

Metamorfose Ambulante disse...

Acho que são nossos amigos que estão ficando velho!!! Ninguém quer sair mais de casa para tomar um chope e botar as conversas em dia!!

Tô buscando gente mais nova (40-45 anos) para poder sair!

Agora, a frase do Belchior não se aplica a mim, estou sempre aberto ao novo!!

Cheguei no Rio agora. Só chuva!!!!

Vou marcar a sua data de agosto e vou tentar programar.

Meu avô era de 25 de agosto. Tenho um primo (e afilhado) também em 25 de agosto. A Gisa é de 26?

Grande abraço a todos!!

FRID

Anônimo disse...

Eh Guilherme, sempre direto na veia, é verdade.
lembro do sorriso, da barba, sempre dando uns esporros...

Mas é isso aí, Frid. Um dia agente se encontra
Pra vcs, meus caros, q ficaram ainda por aqui, como eu:

Grande abraço

Marilda

Anônimo disse...

Olá!
Bom Dia.... Dia Bom.....

Tomei a liberdade de dividir com alguns amigos.......

Chorei muuuuuiiiiiiiiiiiiiiiittttttttto!!!

Bjs mil
Rita

Metamorfose Ambulante disse...

Fez bem em dividir!

Deu saudades daqueles tempos!!! Conte algumas estórias para mim!

Grande abraço!

FRID