Quarto romance de Charles Bukowski, publicado em 1982, depois de Cartas na rua (1971), Factótum (1975) e Mulheres (1978), seguido de Hollywood (1989) e Pulp (1994). é um "romance de formação", contando o início da vida de Henry Chinaski, alter ego do Bukowski e personagem principal dos seus romances e de muitos contos.
Como o tradutor (Pedro Gonzaga) alerta na apresentação do livro, "Charles Bukowski não é o personagem-narrador de seus textos.Seus personagens são criações literárias, invenções elaboradas e não simples colagens da vida do autor. O forte caráter autobiográfico que pode, com certeza, ser encontrado ao longo de toda obra é somente meio e nunca fim. Tanto o velho safado como Henry Chinaski, protagonista do livro que o leitor tem em mãos, são alter egos ficcionais." O próprio Henry Chinaski quando tem um texto apreciado por um professor, conclui que as pessoas queriam mentiras maravilhosas e ele as dariam a eles. (Leia trecho aqui)
O livro é muito bom, bem escrito, com passagens fortes. Cativa o leitor, prende-o até a última página. É o primeiro Bukowski que li sem sexo (a única tentativa relatada, que não é dele, é frustrada), sem apostas em cavalos e com poucos bêbados. Aborda a infância e a juventude de Henry Chinaski, mais ou menos dos 2 aos 20 anos, até chegar à faculdade, e explica o comportamento futuro do personagem, seu desejo de ser escritor, suas leituras iniciais (Upton Sinclair, D.H. Lawrence, Sherwood Anderson, Hemingway, Dos Passos, Turguêniev, Górki), sua ligação com as bebidas, seu relacionamento complicado com as mulheres, brigas, suas escolhas erradas, seus empregos sofríveis, a sua doença que deixou, literalmente, marcas corporais, etc. Só não aparecem, ainda, as corridas de cavalos.
A descrição da descoberta da bebida, no caso vinho em barril, "melhor que masturbação", é ótima. Chinaski passa a beber "rios" em busca do prazer da primeira vez? De virar o homem perfeito? (Leia aqui)
Pai, mãe, amigos, professores, estão todos no livro, influenciando, marcando e definindo o futuro Henry Chinaski,
Quem tem um pai como o dele fica marcado para toda a vida. (E a mãe também é complicada) Talvez por isso é que ele dedica o livro a "todos os pais", como se dissesse "não façam isso!" Kafka explica! (leia aqui)
Na contracapa é dito, com muito acerto, que o livro "cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX," (Isto tira a comparação de BuKowski com seus ídolos e influências literárias), concluindo que "pode-se dizer: quem não leu Misto Quente não leu Bukowski", com o que não concordo muito, pois quem leu "Mulheres" leu Bukowski!
Leia o livro, que é muito bom!!!
Charles Bukowski in "Misto Quente", L&PM, abril de 2013
José FRID
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