domingo, 27 de março de 2022

A vida é assim....

Mudei e meus filhos ficaram amigos das crianças do prédio. A amizade dos pequenos virou a convivência dos pais. Jonas e da Soraya estavam na nossa faixa de idade. As crianças brincavam no quarto, os adultos na sala bebendo, comendo e conversando sobre tudo e o nada. Amizade forte, de deixar os filhos com um casal para o outro fazer uma viagenzinha romântica. Tínhamos o mesmo padrão econômico. A exceção era brindar um bom negócio fechado por Jonas com champagne francês, que ele dizia ser um prêmio dado pelo patrão.

Um dia Jonas perguntou se eu poderia guardar um presente que comprara para Soraya, surpresa de aniversário de casamento. Concordei e recebi um grande pacote, envolto em papel cheio de corações. Coloquei no maleiro e esqueci.

Meses depois, Jonas aparece na televisão sendo preso por tráfico de drogas, líder de quadrilha que exportava cocaína para a Europa e importava armas russas. Lembrei do embrulho dos corações. Tereza ligou para Soraya pelo interfone, mas não havia mais ninguém. Não tivemos coragem de ligar no celular.

A vida é assim.

Eu poderia ter mudado para o prédio ao lado do primeiro. Meus filhos fariam outras amizades e eu não conheceria Jonas e Soraya, mas Milena, que não tinha filhos, mas mantinha a porta sempre aberta para todos os pais dos quatro blocos do edifício, quinze andares cada, quatro por andar. Só aceitava dinheiro, mas sempre tinha uísque, vinho, cervejas, camisinhas e uma cama enorme, a um lance de escadas da academia de ginástica do prédio. Tereza descobriu onde eu investia minhas comissões de vendas e tivemos que mudar do prédio.

A vida é assim.

Mudei foi para o prédio da esquina. Pedro, pintor da cobertura com piscina. frequentava a academia quando, filhos na escola, as mães ajustavam seus corpos. Tereza estava cada dia mais gostosa, mais durinha e dourada pelo sol. Um dia, ao voltar do trabalho, ajudei-o a colocar alguns quadros no seu carro, nus femininos, em várias posições. Reconheci algumas moradoras, inclusive minha Tereza. Gostosa, durinha, dourada. Relevei, estava ganhando também.

A vida é assim.

Talvez tenha mudado para uma casa. Meus filhos brincam com as crianças dos prédios do outro lado da rua. Conheço de vista muitos moradores e na padaria escuto histórias sórdidas sobre eles. Um dia, na Paulista, encontro a Soraya almoçando com a Milena e o Pedro, negócios. Convidaram-me para a conversa. Agora cuido das contas, pagamentos, cobranças, não pergunto nada. Nado com Pedro, vizinhas, Milena e Soraya e coloco o nariz onde não devo, entende?

A vida é assim.

Não mudei. Tereza trocou-me por um rico pintor, deixando as crianças comigo. Casei-me com a babá e resolvi o problema. Trabalho numa empresa de comércio exterior. Outro dia, a polícia federal apareceu no escritório. Consolei Soraya...

J.FRID

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