Por Marcos Cavalcanti - http://oglobo.globo.com/blogs/inteligenciaempresarial/
Neste sábado, os alunos do MBA em gestão do conhecimento que coordeno na Coppe (MBKM), tiveram o privilégio de assistir a apresentação de dois casos de implantação de projetos de gestão do conhecimento em duas grandes empresas brasileiras (Suzano Papel e Celulose e Promon Engenharia) que vivenciaram processos de mudanças organizacionais. Na verdade que empresa ou organização não está confrontada a esta questão?
Realmente, num mundo em transição como o que vivemos, o processo de mudança é permanente e envolve não apenas a esfera profissional mas também a nossa vida cotidiana. Dois textos são extremamente importantes de serem lidos por quem quer compreender e vivenciar este processo sem grandes traumas.
O primeiro, já comentado neste blog, é o livro "O Lado oculto das mudanças: a verdadeira inovação requer mudança de percepção", de Luc de Brabandere. Em essência, a pesquisa realizada durante mais de cinco anos pelo autor, que entrevistou centenas de profissionais de várias áreas (inclusive psicologia e medicina), diz que para mudar temos que ter clareza para onde queremos ir e sermos capazes de operacionalizar a mudança.
Um empresa precisa, em primeiro lugar, querer mudar e ter uma boa idéia do que quer ser. Mas isto não é suficiente. Precisa também construir um ambiente que ajude a concretizar a mudança. Isto vale também para a mudança que cada um de nós quer fazer na sua vida. Dizer que "tudo está uma m..." não é suficiente. A culpa ("cigarro ou bebida matam", "o trabalho obsessivo está acabando com minha vida") não é o principal motor da mudança. Ela é apenas um componente do processo. Precisamos, claro, estar incomodados com uma situação para mudar. Se não estivermos, não vemos NECESSIDADE de mudar. Mas a força maior que nos leva para a frente é uma força positiva. No mínimo, é acreditar que podemos ser diferentes! Mas precisamos criar as condições objetivas, concretas: diminuir a quantidade de coisas que faço, deixar de frequentar lugares que me trazem a lembrança (e a necessidade) de fumar/beber, aumentar a qualidade das relações humanas, dedicar mais tempo ao que é realmente importante para sua vida...
O segundo é o texto "Queremos mudar os jovens que cometem crimes", do antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, Secretário de Valorização da Vida e Prevenção da Violência de Nova Iguaçu:
"Acontece que não há nada mais difícil do que mudar, sobretudo provocar a mudança em alguém. Não há aventura humana mais arriscada e radical. Equivale a uma pequena morte, porque, para mudar, matamos algo em nós: aquilo que nós éramos ou parte do que éramos. As religiões tematizam a mudança como o problema da conversão. As terapias psíquicas a tematizam como seu foco central, seja para admiti-la e estimulá-la, seja para redefini-la como aceitação de si ou resignação à "incompletude". De todo modo, este é um desafio tremendo para a humanidade. Ninguém tem a chave da transformação e nenhuma ciência desenvolveu uma metodologia segura para promovê-la. O que sabemos é que se trata de uma experiência humana dolorosa e complicada. Uma coisa é certa: ninguém muda para melhor se não calçar em terreno firme a fundação da nova pessoa que deseja construir. O solo firme, nesse caso, é a auto-estima revigorada. Para livrar-se de uma parte de si julgada negativa, destrutiva e auto-destrutiva, é necessário confiar na parte saudável e positiva, porque é ela que garante a força indispensável à mudança; é ela que garante ao agente do processo (protagonista e objeto do processo) que a morte representará renascimento; é ela que oferecerá a certeza de que não se jogará fora a criança com a água do banho: algo será preservado e este algo é o que mais decisivamente se confunde com a pessoa. Em outras palavras: uma pessoa pode mudar não porque seja fundamentalmente má, mas porque é fundamentalmente boa –por isso tem coragem para ousar a mudança, tem valor suficiente para esta audácia suprema, tem por quê lutar. Mudar implicará dar a vitória à parte saudável, que estava sendo hostilizada e prejudicada pelo lado destrutivo, o qual terá de ser compreendido, elaborado e absorvido, não negado e destruído –ou não haverá mudança efetiva, apenas uma variação momentânea da correlação interna de forças. Para mudar, é preciso, portanto, o solo firme da auto-estima revigorada. Como seria possível edificar sobre o pântano? Pois é aí que as instituições que dirigem a sociedade metem os pés pelas mãos. Quando seria necessário reforçar a auto-estima dos jovens transgressores no processo de sua recuperação e mudança, as instituições jurídico-políticas os encaminham na direção contrária: punem, humilham e dizem a eles: "Vocês são o lixo da humanidade".
Uma empresa ou uma pessoa não podem mudar com baixa auto-estima, se apoiando no que ela tem de pior. O lixo é um lixo! Ela tem que se conhecer e identificar seus problemas mas também suas qualidades, para poder se apoiar nelas na difícil transição para o novo. Parafraseando Vinicius de Moraes, a beleza (de cada um) é fundamental!
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