Estação do Metrô. Entro na fila da bilheteria. Um casal jovem está à minha frente. Eles estão frente a frente, se olham, mas não se tocam. Conto mentalmente as pessoas da fila, são muitas, preciso paciência, distração. Como estou sem um jornal, um livro, ocupo-me em observar o que se passa na estação. A mocinha olha atrás de mim o longo corredor que trás estudantes do colégio e das faculdades ali perto, talvez colegas deles. O rapaz acompanha o olhar dela e me vê. Incomodado, puxa a menina para perto dele e dá-lhe um beijo. Marcou território, posse ou é amor? Ela retribui e ele a solta. Amor? Ele saca o celular, sorri para a tela e digita mensagens com as duas mãos. Ela olha para mim, para o corredor, para os passantes, espera. Amor ou posse? Por quanto tempo ele conseguirá mantê-la?
Um outro casal jovem se abraça e beija encostado na mureta antes das catracas. Abandonam-se um ao outro. Amor ou posse? A fila anda, os dois à minha frente dão alguns passos, eu também, mais gente entra na fila atrás de mim, pessoas passam pelo corredor, o rapaz continua digitando mensagens, a moça olha em torno, o casal na mureta deixa-se beijar e abraçar. É amor?
A fila encolhe, vislumbro a bilheteira. Procuro o dinheiro da passagem. O rapaz enfim completa sua correspondência eletrônica, a menina conversa com outro à frente dela. A posse esvai-se? O casal da mureta desgruda-se e caminha abraçado para as catracas. Chegam próximo a uma delas. A a moça tira o cartão eletrônico do bolso e faz menção de se despedir do rapaz. Ele a abraça e os dois se abandonam num beijo fogoso, bem ali na boca da catraca, atrapalhando quem quer entrar. É amor?
A moça à minha frente compra o bilhete, o rapaz recomeça a digitar e os dois caminham para as catracas. Ela vê o casal beijoqueiro e desvia-se; ele quase tropeça nos dois – é difícil digitar, caminhar e desviar dos obstáculos. Cada um passa por uma catraca. A menina ainda olha para trás vendo o casal abraçado. Suspira?
O casal apaixonado enfim se separa, mas não muito. Ela consegue passar pela catraca, mas o rapaz a chama de volta. Ela retorna, ele entra na catraca sem passar o bastão e a puxa para si. Longo beijooooooo, que dura até um metroviário invejoso vir pedir para os dois liberarem a passagem. O rapaz fica dando adeus para ela como se estivessem no aeroporto ou na rodoviária. Pelo visto, nem lembram que a separação será breve, que amanhã estarão juntos outra vez na escola – faculdade. Ela, enfim, some na escada rolante. Ele vira-se já com o celular na mão. Passo por ele, pela catraca, desço os degraus. Na plataforma vejo os três: uma olha desolada para os trilhos; seu companheiro digita, sorri, digita; a outra fala embevecida ao telefone. O amor é lindo!
José FRID
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5 comentários:
É o Amoroooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!
Oséas
Você precisa ter uma coluna nos jornais e revista, é muito prazeros ler sua crônica. Adorei! Parabéns! Lembre-se que eu tomava metro e identifiquei a realidade e de forma divertida.
Abraços
Gilvanete
Fiquei contente que você tenha gostado.
O metrô é bom para fazer observações!
Um abraço
FRID
Frid
Um observador/narrador do cotidiano e dos personagens da cena urbana paulistana que transfere o seu olhar e sentir para belos textos!
Quando sai o livro de crônicas...
Já está ficando maduro!
Abração do
Ayrtão
Ainda faltam muitas ......
Grande abraço!!
FRID
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